SÃO PAULO - Paulo Henrique Ferreira dos Santos, 27, gerente de produtos de dados da Alcatex, ouve música em seu walkman no trabalho, sempre que a tarefa permite. Na agência de publicidade DM9, os funcionários têm à disposição uma cesta de basquete. Antes dela, havia um saco de areia, como os usados por lutadores de boxe, com a figura do rosto do dono, Nizan Guanaes.
A Avon oferece uma sala de "shiatsu" (tipo de massagem oriental), onde os funcionários são atendidos em sessões de até uma hora durante o expediente. O que essas situações têm em comum? São técnicas cada vez mais usadas pelas companhias para reduzir a tensão no trabalho.
O combate ao estresse, especialmente nas grandes empresas, tem aumentado de proporções por um motivo simples: ele afeta diretamente a produtividade.
SONECA NO TRABALHO - Prova disso é que, nos Estados Unidos, já há companhias apostando até na "tática da soneca". Uma pesquisa feita pela Fundação Nacional do Sono (EUA), em Washington, mostra que é crescente a parcela de trabalhadores norte-americanos que podem tirar um cochilo no trabalho, e que, cada vez mais, essa atitude tem tido a aprovação da chefia.
Segundo a agência de notícias CNN na Internet, existem exemplos de empresas que construíram áreas especiais para os empregados dormir. É o caso de um empresário que teria reservado uma área com barracas com capacidade para 150 funcionários, com travesseiros, lençóis, tapa-olhos, música relaxante e despertadores, é claro.
A pesquisa da fundação norte-americana mostra ainda que 20% das pessoas que fazem hora extra afirmam que costumam pegar no sono no local de trabalho, o que representaria uma perda de cerca de US$ 18 bilhões anuais devido à queda na produtividade.
No Brasil, uma pesquisa do Grupo Catho -especializado em recrutamento e seleção de executivos-, realizada com 1.356 profissionais em todo o país, mostra que 35,71% dos entrevistados afirmam sentir com freqüência os problemas do estresse e do cansaço gerados pelo emprego.
INICIATIVA - Amenizar as pressões diárias no ambiente de trabalho não depende somente da iniciativa das empresas. Segundos especialistas consultados pela reportagem, algumas mudanças de hábitos dos empregados podem ajudar a minimizar os efeitos do estresse.
Segundo Lizete Araújo, 40, vice-presidente do grupo Catho, 80% dos executivos dedicam mais que dez horas diárias de seu dia ao trabalho. "Além de não ser saudável, o profissional se sente perdido quando deixa o emprego, sem saber canalizar essa energia."
Na opinião de Marília de Campos, 45, terapeuta especializada na área de trabalho do Instituto Internacional de Meditação, é possível "mandar o estresse embora" sem sair da empresa. Ela diz que, por por meio da meditação e de alguns exercícios simples de postura e respiração, é possível conseguir resultados eficientes.
"Não é preciso mudar de emprego para fugir do estresse diário. Atitudes mais simples, como organizar melhor o tempo, podem oferecer resultados concretos contra a tensão do trabalho.
Segundo Carmen Lúcia Rittner, 54, professora de psicologia organizacional da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), além de exercícios físicos e respiratórios, meditação, relaxamento e melhor convívio familiar, é importante não ficar correndo atrás do relógio.
"A organização das tarefas pessoais é tudo. O fato de o profissional estar com os minutos contados para fazer as coisas já é um fator estressante", explica. Fazer paradas durante o dia também funciona como uma válvula de escape. "Um exemplo é o `coffee break'. Em palestras longas, ele funciona como uma pausa para espairecer", diz Mônica Graciela Levi, 55, terapeuta da área de trabalho.
Outras atitudes, como entrar sorrindo no ambiente de trabalho, não se deixar influenciar pelo mau humor alheio, ouvir música -quando for possível e sem incomodar os outros- e privilegiar novos contatos, são boas dicas para afastar o estresse.
Para alguns, ler, assistir a filmes, ouvir música ou cuidar de um jardim podem ser atividades mais relaxantes do que ginástica. Isso quer dizer que, embora a atividade física faça bem para o corpo, nem sempre é a opção adequada para eliminar a tensão.
"Caminhar obrigado não resolve nada. A atividade tem de oferecer prazer", explica Cláudia Cezar, 32, professora do Centro de Práticas Esportivas da USP (Universidade de São Paulo).
PROGRAMAS - Empresas brasileiras vêm investindo em programas alternativos para minimizar os efeitos do estresse nos funcionários. O Grupo Abril resolveu apostar nesse lema e oferecer, por seis meses, sessões de massagens para um grupo de 350 jornalistas.
Segundo as fisioterapeutas responsáveis, Cristina Satiehi Hirashima, 28, e Rita Matufugi, 27, o programa deu resultados. Dos participantes, 94% disseram se sentir mais relaxados e livres do estresse, e 72% disseram querer continuar as sessões.
A Avon, empresa do setor de cosméticos, criou um verdadeiro complexo interno antiestresse. O programa inclui a "short friday" ("sexta-feira curta", em que o expediente nos escritórios vai até as 14h45), quadras, trilha para caminhada e academia.
A empresa oferece aulas de ginástica laboral, para o combate à LER (Lesão por Esforços Repetitivos), e ainda criou o Grupo de Atenção ao Estresse, que realiza encontros com os funcionários para trabalhar aspectos psicológicos relacionados à tensão.
Como se não bastasse, foi montada uma sala de "shiatsu" (tipo de massagem oriental), onde, com hora marcada, os funcionários podem ser atendidos durante 30 minutos ou 60 minutos em pleno expediente. Segundo Patrícia Helena Quaresma, 28, coordenadora de benefícios e serviços sociais da Avon, a iniciativa melhora o ambiente de trabalho. A secretária bilíngue Viviane Lúcia Cruz, 26, diz que faz massagem uma vez por semana e que não larga por nada. "É tão bom que chego a dormir", comenta.
Fonte: JC OnLine